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Venture capital: tudo que os fundadores de startups na América Latina devem saberVenture capital: tudo que os fundadores de startups na América Latina devem saberVenture capital: tudo que os fundadores de startups na América Latina devem saber

Venture capital: tudo que os fundadores de startups na América Latina devem saber

Saiba o que é venture capital; a diferença para investimento anjo e private equity; como funciona o venture capital; e prós e contras aos fundadores de startups

Você quer criar uma startup que vai transformar a América Latina, mas não nasceu em berço de ouro? Então vamos contar algo que você provavelmente já descobriu se está lendo isto: bootstrapping só vai te levar até um certo ponto, Fernanda. Você terá de enfrentar seus medos. E com isso, queremos dizer encarar negociações com investidores de venture capital para conseguir o tão sonhado cheque na sua startup em estágio inicial.

Por que você precisa do dinheiro desses VCs? Porque a jornada para encontrar a̶ ̶C̶a̶r̶m̶e̶n̶ ̶S̶a̶n̶d̶i̶e̶g̶o̶ o product-market fit é tortuosa. Você provavelmente precisará de dinheiro para sobreviver tempo suficiente para engatinhar, andar, e finalmente correr até aquilo de que sua comunidade precisa. E apenas depois de descobrir essa necessidade você poderá construir o caminho para o crescimento e a lucratividade.

Sabemos que convencer outros a escreverem um cheque para você é um esforço que gera muita ansiedade. A preparação é sua maior arma nessa batalha. Por isso, sua primeira tarefa é conhecer a arte e a ciência do venture capital como a palma da sua mão.

Confira este guia com tudo que você deve sabe sobre o venture capital: o que é venture capital, como ele difere do investimento anjo e do private equity, como o processo de investimento de venture capital funciona, e os prós e contras em obter venture capital.

O que é venture capital: definição e matemática

O venture capital é feito de pessoas e gestoras que colocam dinheiro em empreitadas conhecidas como startups. A definição de venture capital é fazer um investimento em uma organização temporária que procura um modelo de negócios repetível e escalável, para usarmos a definição de startup de Steve Blank.

Por que investir nisso? VCs são malucos e malucas?

Bom, um pouquinho. VCs acreditam que alguns negócios têm potencial para mudar o mundo, e assim gerar retornos igualmente ambiciosos para quem investiu no começo de tudo. VCs assinam um cheque quando poucos acreditam em uma startup e em troca ganham um pedaço do bolo. Quando o bolo cresce e sai quentinho do forno, é a hora de comer esse pedaço.

Parece uma receita bem fácil, né? O problema é que muitas vezes VCs ficam passando fome. O pior? Sabem que correm esse risco.

Fundadores na nossa comunidade já sabem esta difícil verdade: apenas 2% das startups americanas que levantam mais de US$ 500 mil conseguem virar unicórnios. Para a América Latina, pode considerar 1%. Uma estatística ainda mais assustadora: menos de 0,1% das startups explicam 97% dos lucros.

VCs sabem que algumas startups vão falir. Outras vão apenas retornar o valor investido. Outras vão gerar um pequeno múltiplo de retorno sobre o investimento. E por fim, a razão pela qual investidores entraram para o venture capital: as poucas startups que sobraram vão ser tão grandes que compensarão os resultados ruins e mornos.

É a Power Law: o melhor investimento em um fundo de sucesso deve igualar ou superar todo o restante acumulado do fundo (chamamos essa startup de fund returner). Fundador de startup, para simplificar: sua startup precisa retornar o fundo de venture capital. E claro, no meio dessa jornada transformar as coisas como elas são.

História do venture capital

VC parece algo super novo até agora, né? Mas a história do venture capital se deve a uma mentalidade de muito, muito tempo atrás. Essa é a mentalidade empreendedora de que alto risco pode ser compensado com alto retorno.

O professor de Harvard Tom Nicholas traça a crença em recompensas financeiras substanciais mas improváveis ao século XIX. No mesmo século que Moby Dick foi escrito, a indústria de baleias estava bombando. Apesar de seus participantes saberem que os retornos tinham uma distribuição extremamente envisesada, viagens para caçar baleias continuavam.

O que mudou em dois séculos é que a caça mudou de baleias para unicórnios e que o cenário não é New Bedford, mas Boston. Depois o Vale do Silício. E finalmente o mundo.

Na década de 1940, criou-se a primeira empresa de capital de risco como a conhecemos. A American Research and Development Corporation (ARDC) montou um time dos sonhos: o MIT, o Federal Reserve Bank de Boston e Georges F. Doriot (outro professor de Harvard e um dos principais personagens no mundo do VC).

Eles mostraram que havia interesse de investidores institucionais em empresas de tech. Conhecer famílias ricas ou cair na graça de um banco tradicional não eram mais as únicas opções disponíveis para os fundadores na tecnologia. Finalmente!

Os sucessos d̶o̶s̶ ̶V̶i̶n̶g̶a̶d̶o̶r̶e̶s̶ da ARDC inspirariam muitos outros a seguir o mesmo caminho e criar empresas de capital de risco em outros estados americanos além de Boston. A Davis and Rock foi uma das primeiras empresas de venture capital no Vale do Silício e investiu em minas de ouro, como Intel e Apple 💅. Gestoras que provavelmente já alugaram um apartamento na sua cabeça foram criadas alguns anos depois, como Kleiner Perkins e Sequoia Capital.

Com o passar das décadas, a tecnologia chegou a todo mundo e o capital de risco tornou-se uma classe de ativos em crescimento. Especificamente nos últimos anos, esse movimento se espalhou pelo mundo. E agora há um grande destaque em regiões emergentes, inclusive na nossa querida América Latina.

Se você não é aquele tipo de fundador bootstrapped que vive debaixo de uma pedra, provavelmente sabe como a última década foi crucial para o venture capital na América Latina. VC tornou-se uma verdadeira rota de captação de recursos para fundadores de startups na região.

No atípico 2021, mais de US$ 5,4 bilhões foram investidos em startups latino-americanas, de acordo com a Association for Private Capital Investment in Latin America (LAVCA). Apenas startups brasileiras receberam US$ 2,9 bilhões, segundo a Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP).

E apesar de termos visto uma desaceleração em 2022, esse ano ainda foi o segundo melhor para VC na América Latina. 2023 parece ainda mais difícil do que o ano passado, mas vamos lembrar que capital de risco e empreendedorismo em geral brilham mais quando as probabilidades não estão em nosso favor.

Investidores e startups amadureceram. Isso significa que apenas negócios com valor real poderão receber cheques, e mesmo assim esses cheques serão mais conservadores. As melhores colheitas nascem dos solos mais agrestes. Brindaremos com um bom vinho daqui a alguns anos.

Rodadas de investimento em uma startup

Rodadas de investimento são uma das formas mais comuns de uma startup levantar dinheiro para atingir marcos essenciais e, posteriormente, gerenciar seu crescimento. As gestoras de venture capital estão presentes em cada etapa do caminho dessa empresa.

Cada rodada ocorre em estágios específicos de desenvolvimento da startup, e por isso também recebe um nome específico. Podemos dividir as rodadas de investimento em uma startup em quatro categorias: pré-Seed, Seed, Série A e Série B+.

Pré-Seed

O início de um sonho.
Não, não estamos falando do Big Bang.

A rodada pré-Seed é para as startups que ainda não possuem um produto finalizado e buscam recursos para desenvolvê-lo. Esses são os estágios de ideação e produto mínimo viável (MVP).

Por ser a primeira rodada de investimento em uma startup, esse também é o investimento mais arriscado para o venture capital. Nessa fase, é como se você pedisse dinheiro para comprar uma bicicleta para aprender a andar nela, daí participar de uma competição, e por fim levar para casa o troféu de campeão.

Você vai precisar mostrar aos investidores não apenas que você é quem deve assumir esse loooongo esforço, mas também por que essa competição de ciclismo é importante em primeiro lugar. Difícil, né?

Por isso é comum que essa primeira rodada seja realizada com contribuições dos próprios fundadores e de seus amigos, familiares e tolos primeiros apostadores. Sabemos que sua mãe ainda vai te amar, mesmo depois de você pivotar seu negócio pela sétima vez.

Seed

Na rodada Seed, a startup geralmente já tem um MVP. Mas ainda precisa de fundos para financiar a validação de sua startup, também conhecida como product-market fit.

Assim como a rodada pré-Seed, a rodada Seed também está na categoria das rodadas mais arriscadas para os investidores. Ainda existem grandes chances de a startup não conseguir viabilizar seu produto para o mercado. De o dinheiro arrecadado não ser suficiente para sustentar o número de pivots necessários para que o negócio finalmente funcione. VCs não podem respirar fundo ainda.

Receber uma rodada Seed é como ter um pai segurando enquanto você começa a pedalar. Quando ele soltar a mão da bicicleta, você ainda tem uma grande chance de cair. Por outro lado, você pode simplesmente pedalar. Como já dissemos várias vezes, o product-market fit é o ponto de vai ou racha para sua startup.

Série A

Na rodada Série A, a startup já tem o produto criado e validado. Será que eu ouvi um suspiro de alívio por aí?

O que falta agora é um investimento que permita escalar o negócio, o que pode ser traduzido como a execução das estratégias de go-to-market.

Esse é um estágio em que a maioria das gestoras de venture capital se sente confortável em investir, com a quantidade certa de risco para tal classe de ativos. (A propósito, comece a entender e mostrar números desde já. Os investidores já estão exigindo ver rentabilidade no horizonte na fase da Série A, avisa o nosso colega Paulo Passoni.)

Na analogia da bicicleta, você já sabe pedalar sem nenhuma ajuda. Mesmo assim, precisa de mais energia para ultrapassar a concorrência e finalmente alcançar a primeira posição no campeonato.

Série B em diante

A próxima fase é a da rodada Série B. O que falaremos aqui se aplica às rodadas seguintes (Séries C, D, E e assim por diante).

Nessa altura do campeonato, já estamos falando de uma startup consolidada no mercado. O que falta agora é capital para continuar a jornada que levará a startup até o topo do seu segmento de mercado (e até a lucratividade).

Agora, você é um atleta profissional de alto rendimento no ciclismo. Você tem as condições e habilidades necessárias para levar o troféu para casa. Nesta rodada, as gestoras que investem são tanto de venture capital quanto de private equity (mais sobre isso em um segundo).

Investidor anjo x venture capital x private equity

Uma startup geralmente começa com tempo e dinheiro do fundador. Não sei você, mas geralmente esses recursos não são suficientes para apoiar toda a jornada de uma startup até o PMF. E é aí que entra o investimento externo.

Um investidor externo fornece recursos financeiros para uma empresa em troca de uma parte dela, conhecida como participação acionária. As ações que um investidor recebe podem representar 5%, 10%, 15% ou 20% da empresa, por exemplo.

O venture capital é apenas uma forma de investimento externo. Vejamos como isso se compara a outras formas comuns pelas quais as startups se financiam em troca de participações acionárias, como investimento anjo e private equity.

Diferença entre investidor anjo e venture capital

No investimento anjo, o investidor é um indivíduo que fornece recursos financeiros para uma startup em troca de uma participação acionária no negócio.

Essa é a primeira diferença em relação às gestoras de venture capital. Enquanto os investidores anjos investem sua própria riqueza, VCs agrupam recursos de indivíduos e instituições. Esses indivíduos e instituições são investidores conhecidos como sócios limitados ou LPs, enquanto os gestores de VC são conhecidos como sócios gerais ou GPs. Os GPs ficam responsáveis ​​por escolher as startups e alocar esse capital acumulado investido pelos LPs.

O investimento-anjo é mais comum nos estágios iniciais de captação de recursos de startups, como as rodadas pré-Seed, Seed e Series A. Por outro lado, as gestoras de venture capital cobrem uma gama mais ampla, desde estágios iniciais até estágios avançados.

Outra diferença é o tamanho do cheque escrito. Como os anjos são indivíduos e as firmas de venture capital são gerentes de investimentos, espera-se que um anjo invista menos dinheiro do que uma gestora de VC.

A participação pode variar, dependendo de quando o investidor anjo entra na tabela de capitalização (cap table). Como o anjo geralmente entra em cena antes de uma gestora de VC, pode muito bem acessar uma avaliação mais baixa e pedir uma participação maior, proporcional ao risco assumido. Saiba mais sobre como evitar ser muito diluído em sua própria startup.

Diferença entre private equity e venture capital

Venture capital (VC) e private equity (PE) são formas de investimento muito diferentes, embora ambas signifiquem que gestoras administrem capital de terceiros e tenham participação ativa em fazer com que as empresas investidas aprimorem sua estratégia e cresçam.

O venture capital destina-se a empresas mais jovens e inovadoras. Elas estão levantando capital para atingir marcos essenciais para sua jornada de crescimento, como a consolidação do product-market fit e estratégias de go-to-market.

Por outro lado, o private equity é um tipo de investimento voltado para empresas estabelecidas e maduras. Os investidores de private equity procuram negócios que já atingiram marcos essenciais e mostram um histórico de operação bem-sucedida e fluxo de caixa consolidado. Normalmente, essas empresas buscam recursos para financiar o avanço de seu crescimento e da sua lucratividade por meio de reestruturações, expansões ou aquisições.

Como você deve ter adivinhado olhando para o tipo de empresas investidas, outra diferença principal entre VC e PE é o grau de risco e o retorno esperado.

O private equity é um investimento mais indicado para quem busca oportunidades no mercado corporativo convencional, aceitando um retorno um pouco maior do que o de ações das empresas com capital aberto. Já o venture capital é para investidores que aceitam o alto risco envolvido no financiamento de uma startup nascente, observando seu rápido crescimento e potencial de retorno.

Pense em qual ponto da jornada sua startup está e do que ela precisa ao decidir entre investimento anjo, capital de risco ou private equity. Se você ainda está confuso sobre qual é a escolha certa para o seu negócio, confira os sete estágios de uma startup, do crescimento à maturidade.

Como funciona o venture capital

Será uma missão difícil convencer VCs a assinar um cheque. Agora você sabe o porquê: ou você retorna o fundo, ou você volta para casa. Essa é a "Power Law".

Agora que você sabe como investidores e investidoras de capital de risco pensam, é hora de entender o processo de investimento que VCs seguem e como você pode preparar sua startup para ter uma chance melhor de captar investimentos.

1. Deal flow e deal sourcing: introduções quentes e frias

Nossa primeira parada é em deal flow e deal sourcing. VCs recebem muitas oportunidades de investimento (o que chamamos de deal flow) ou as procuram ativamente (o que chamamos de deal sourcing). Depois, analisam em quais dessas oportunidades devem continuar dedicando seu tempo ou não.

O deal flow pode vir de introduções quentes ou frias (warm and cold intros). Isso significa apenas que VCs podem conhecer startups por referências de fundadores ou investidores próximos, ou por uma mensagem nas mídias sociais de um fundador nunca visto. Geralmente, quanto mais quente a introdução, melhores as chances de ser avaliado por investidores e investidoras.

2. Primeiro encontro: não apresente o pitch, apenas fale

Após uma introdução bem-sucedida, você terá um primeiro encontro com investidores. Tradicionalmente, isso envolve a elaboração de um pitch deck: a apresentação do problema, da equipe fundadora, do modelo de negócio, das estratégias de crescimento e geração de receita, e do objetivo a ser alcançado com o investimento solicitado.

Nosso conselho é que você faça algo a mais para se destacar nesse primeiro encontro. Um pitch deck serve muitos propósitos. Ser um intermediário entre você e o investidor ou a investidora não é um deles.

No lugar de apresentar sua tela e passar slide por slide, diga aos investidores que você quer bater um papo. Sua primeira tarefa nessa conversa é entender como eles e elas percebem o problema e o mercado. Se necessário, esclareça dúvidas. Mas não seja professoral: mantenha VCs envolvidos e envolvidas com perguntas, tendo como objetivo fazer com que se tornem parte da sua equipe.

Essa é apenas uma das dicas que recebemos de Marcial Fraga. O VC da Latitud compartilhou as lições que aprendeu ao analisar mais de 1.000 pitches em uma sessão para a comunidade da Latitud.

3. Termos de negociação: cuidado com armadilhas no term sheet

A primeira reunião já deixa muitos negócios que não conseguiram se conectar e convencer VCs para trás. Se você é um empreendedor ou empreendedora que passou por essa provação, agora terá um monte de novos encontros para que VCs analisem sua startup com mais detalhes e acertem detalhes do investimento. Depois de assinar os papéis, você pode finalmente respirar ✨.

Você deve sempre ter um advogado ao seu lado antes de se comprometer com qualquer coisa. Mas mesmo com companhia especializada, comprometa-se a não sair da sala sem entender tudo que está escrito no documento que detalha as condições do investimento, conhecido como term sheet (termo de compromisso).

O term sheet serve como base para documentos mais detalhados e juridicamente vinculativos. E preste bastante atenção agora: existem dois tipos de investidores em startups em estágio inicial. Aqueles que querem crescer com você, e aqueles que querem crescer em seu detrimento. Felizmente, term sheets são um bom sinal sobre com qual tipo de investidor você está lidando.

Alguns dos temas mais comuns nos term sheets são a posse de ações (equity ownership) e a avaliação de sua empresa (valuation). Aprenda as armadilhas mais vistas nos term sheets para que você possa identificar sinais ruins de longe e estar em uma posição melhor para negociar termos com VCs.

4. Saída e retorno sobre investimento no venture capital

VCs não têm uma bola de cristal. Mesmo que analisem diversas vezes um negócio, nem toda startup se tornará o fund returner que esperam. E é por isso que todo fundo de venture capital tem um portfólio.

Gestoras de VC podem ter de dezenas a milhares de startups investidas em suas vidas. E cada startup do portfólio tem uma Taxa Interna de Retorno. A TIR é uma métrica financeira que visa determinar a rentabilidade potencial de um negócio.

VCs estão sempre verificando resultados das startups em seu portfólio, incluindo a TIR. Ela é apenas um dos indicadores que ajudam o investidor a decidir em qual negócio dobrar a aposta.

Isso acontece por meio de rodadas seguintes (follow-on rounds). Basicamente, uma gestora de VC pode investir novamente em uma startup em sua próxima rodada de captação de recursos para manter a mesma porcentagem de participação no negócio.

Imagine que você tem um copo cheio de água. O copo é o valor total arrecadado pela startup e a água é o que esta gestora de capital de risco investiu nela. Quando a próxima rodada acontece, é como se o copo crescesse. Para manter a mesma proporção entre água e vidro, VCs precisam despejar mais líquido, na forma de mais um investimento.

Cada investimento tem sua própria TIR, já que o dinheiro foi colocado em valuations diferentes da startup. As gestoras de capital de risco só saberão a taxa real total de retorno de seus investimentos quando ocorrer uma saída (exit).

Uma saída é um evento de liquidez. É um evento que permite que investidores e investidoras vendam suas ações e coloquem dinheiro de volta nos seus bolsos, de acordo com a avaliação atual da startup. As formas de saída mais comuns para uma startup são:

  • Quando os fundadores compram de volta a participação dos investidores;
  • Em uma nova rodada de investimentos, quando um investidor pode vender sua participação para outros investidores;
  • Numa operação de M&A com uma empresa maior;
  • Quando a startup torna-se pública (IPO).

O método de avaliação no venture capital (valuation)

A avaliação de uma startup (valuation) é o valor atribuído a ela com base nas projeções de investidores e investidoras de capital de risco.

Um ativo financeiro é tão valioso quanto o mercado o considera ser, já dizia Keynes. Isso fica bem claro quando você vê preços de ações subindo e descendo dia após dia. Na terra das startups, no entanto, avaliações só são redefinidas quando uma startup capta uma nova rodada.

Portanto, definir quanto vale o negócio é uma tarefa dos seus atuais VCs. O problema é que usar apenas um método tradicional de fluxo de caixa descontado, trazendo valores das receitas futuras para o presente, não funciona. Benchmarking é útil mas difícil, pois startups em estágio inicial podem diferir muito das empresas anteriores no mesmo segmento.

Muito do valor de uma startup está bloqueado em intangíveis e em receitas que só podem ser alcançadas após determinados marcos. E quem sabe quanto tempo levará para alcançar esses marcos, e se eles realmente serão alcançados...

Portanto, VCs geralmente usam uma série de abordagens e critérios para aumentar as chances de atingir um valuation justo. Em Venture Capital and the Finance of Innovation, Andrew Metrick e Ayako Yasuda se fazem algumas perguntas que podem deixar você, fundador ou fundadora de startup, mais consciente de como VCs pensam ao definir o valor de sua empresa. Aqui estão elas:

  • Qual seria o valor justo da startup no futuro, considerando possíveis saídas?
  • Qual a probabilidade de que esse valor justo seja alcançado?
  • Em quanto tempo esperamos que uma saída aconteça?
  • Quantas rodadas de investimento esperamos que aconteçam antes da saída acontecer, e com isso, qual é nossa diluição esperada?
  • Dados todos os riscos envolvidos, qual é a taxa de retorno esperada? Em outras palavras, qual o custo de capital dessa startup?

Nosso CEO Brian Requarth também fala muito sobre a perspectiva do fundador sobre o que torna uma startup valiosa aos olhos de um investidor, já que ele próprio é tanto um empreendedor quanto um VC. Em A Real Sobre Empreender, ele estabelece alguns fundamentos:

  • ‍VCs precisam ver que existe uma maneira de sua empresa se tornar massiva. É a Power Law mais uma vez. VCs estão em busca de um problema tão grande que a empresa que resolvê-lo com certeza se tornará multimilionária (e uma fund returner). Mesmo que você trabalhe em um nicho agora porque sua startup tem poucos recursos, mostre a VCs como você pode abordar outros segmentos de clientes e executar uma grande visão de longo prazo.‍
  • O que vem a seguir, equipe ou tração? Depende do estágio, diz Brian. Nos estágios iniciais, os fundadores por trás do negócio são um fator muito importante. Já quando você está falando sobre um acordo de private equity, tração e crescimento tornam-se mais relevantes. (Mas é claro que quanto mais sinais você der aos VCs de que é um bom negócio, melhor!)
  • Sempre trabalhe para obter mais e mais recomendações. Lembra quando falamos sobre introduções quentes e frias? Quem está recomendando você diz muito para potenciais VCs. Faça um esforço para conectar-se com bons fundadores, boas fundadoras e VCs. Ter investidores e investidoras conhecidos em sua rodada anterior fará com que negociações da próxima rodada sejam muito, muito mais tranquilas.

Como fundos de venture capital fazem dinheiro?

1. Participação acionária (equity)

Fazer um investimento significa obter uma porcentagem de uma startup. Quando a empresa cresce e se torna mais valiosa, o mesmo acontece com a participação do investidor nela.

Exemplo: um investimento inicial de US$ 1 milhão pode posteriormente ser avaliado em US$ 10 milhões, à medida que a empresa levanta mais capital e se torna lucrativa.

2. Taxa de administração

VCs cobram dos investidores em seu fundo uma taxa anual para cobrir despesas operacionais, e essa é sua principal forma de remuneração líquida (prontamente disponível).

Exemplo: a maioria dos fundos cobrará algo em torno de 2% do valor investido.

3. Investimentos subsequentes

Lembra-se das follow-on rounds? Às vezes, investidores e investidoras têm a oportunidade de aumentar a participação em uma startup investindo mais dinheiro – uma jogada inteligente quando uma empresa mostra sinais de sucesso.

Exemplo: se o investidor ou a investidora detinha 5% de uma empresa e o valor de sua participação foi multiplicado por 5 em dois anos, ele ou ela vão querer manter ou até aumentar sua porcentagem no negócio.

4. Carry

Quando acontece um evento de liquidez como um IPO, VCs podem vender suas ações na startup e obter retornos sobre seus investimentos.

Você pode ter visto fundos cada vez maiores sendo levantados na esperança de ganhar mais em taxas de administração. Acontece que essa taxas são esmolas perto de quanto dinheiro pode ser ganho apostando nos vencedores. O tesouro está no carry, pessoal.

Exemplo: se VCs investem US$ 1M e liquidam sua posição por US$ 10M, uma porcentagem (geralmente entre 15% e 30%) desse lucro de US$ 9M pertence ao fundo.

Como conseguir venture capital para sua startup

Startups que buscam investimento de venture capital precisam reconhecer um fato: investidores e investidoras nunca foram tão seletivos. Todos querem um problema doloroso, um mercado endereçável massivo, uma equipe de fundadores acima da média, uma incrível experiência do cliente e, como cereja do bolo, boas projeções financeiras.

Sim, a pressão está sempre lá em cima quando você está procurando um aporte.
Mas isso não significa que você não possa aprender a lidar com ela.
Para isso, transforme a captação de recursos em um processo.

Essa é uma dica que ouvimos repetidamente de investidores como Jason Yeh (Adamant Ventures), Marcial Fraga (Latitud) e o trio Antonia Rojas Eing (ALLVP), Gabriel Vasquez (a16z) e Jonathan Lewy (Investo).

Aqui está um resumo das etapas recomendadas por esses VCs para aumentar suas chances de receber financiamento de capital de risco:

1. Tenha um calendário cheio

Ter calendar density significa divulgar sua agenda e marca reuniões com todos os investidores e investidoras relevantes para o seu negócio no período de uma ou duas semanas.

Essa densidade de calendário cria uma situação em que VCs podem sentir o fato de que não são os únicos nesse jogo de negociação de aportes. E também dá a você, fundador e fundadora, mais confiança. Não deu certo? Tudo bem, temos outra oportunidade em outra reunião daqui a pouco.

2. Faça sua própria diligência

Assim como VCs gostam de fazer due diligence nas startups em que investem, você também deve ter sua própria due diligence sobre potenciais investidores e investidoras.

Não deixe que a pressão de conseguir um investimento faça você deixar de lado verificar se aquela gestora é adequada para você, tanto quanto sua startup é adequada para a gestora.

Pesquise online, converse com startups do portfólio que estão indo bem e não tão bem e faça todas as perguntas que quiser. Isso mostra  VCs que você se preocupa em fazer esse casamento funcionar.

3. Tenha a estrutura jurídica certa

Um pouco de dedicação desde o começo pode evitar não apenas muitas dores de cabeça, mas também a perda de milhões de dólares. Essas perdas não vêm apenas de impostos (lembra como a estrutura corporativa errada fez o Brian perder US$ 100 milhões?), mas também de VCs que não colocam dinheiro em seu negócio.

Já falamos sobre isso em nosso guia para você começar com a estrutura corporativa certa para sua startup. Quando você levanta rodadas maiores ou com investidores internacionais, ter apenas a operação local pode preocupar VCs quanto a obrigações financeiras e legais inesperadas. E startups já são arriscadas o suficiente, muito obrigada.

Pronto para investimentos internacionais? Faça direito com Latitud Formation.

4. Trabalhe na sua primeira impressão

VCs não vão esperar pelo seu último truque na manga para fazer um julgamento. Investidores e investidoras estão avaliando você e sua startup desde o primeiro slide da apresentação e os primeiros segundos do seu discurso.

Então você precisa cuidar da sua primeira impressão. Todos os aspectos da sua comunicação são importantes para isso, desde expressão corporal até narrativa. Lembre-se: VCs precisam se lembrar do seu caso quando forem para a reunião semanal em que as decisões de investimento são tomadas.

5. Enfatize seu problema o suficiente

A primeira mensagem que você precisa comunicar aos investidores e investidoras é quão grande e sério o problema que você está resolvendo é.

Fundadores e fundadoras geralmente querem apenas seguir em frente e pular direto para a solução. Sua primeira lição aqui é enfatizar o problema que você está resolvendo mais, e de maneira empática.

Certifique-se de que o investidor entende a gravidade da dor antes de seguir em frente. Suponha nada. VCs só investirão dinheiro se estiverem conectados com o problema que você está tentando resolver, e isso só pode ser feito se você realmente mostrar o quão profundamente ele afeta certas pessoas.

Não vender a solução também lhe dará o espaço necessário para, eventualmente, expandir sua oferta de produtos e serviços. Concentre-se no seu cliente e não nas suas próprias ideias.

5. Conheça seu mercado como a palma da sua mão

Já que estamos falando sobre o cliente... Não há sensação pior do que chegar o momento do seu discurso e você perceber que não pode explicar seu negócio ou o mercado em que está inserido com confiança. Antes de entrar em uma reunião com investidores, certifique-se de ter essas partes bem entendidas.

Você deve conhecer o mercado, a missão, a estratégia e os números da sua startup. Além disso, você deve estar pronto para explicar por que seu pitch é diferente dos pitches dos concorrentes.

7. Não tente diminuir o risco de investir na sua startup

Existe o impulso de tentar garantir aos investidores e investidoras que sua startup dará certo, e usar métricas conservadoras para garantir que ela cumpra o que prometeu.

Mas como já dissemos: VCs sabem que há uma boa chance de sua empresa não sobreviver. Mas se ela conseguir, eles esperam que traga um grande retorno junto.

Portanto, não fale sobre o nicho específico que você está atendendo agora. Faça um pitch sobre todo o seu setor e apresente planos e projeções de longo prazo. Em vez de provar que a empresa é bem-sucedida no presente, forneça evidências de um caminho claro para se tornar um unicórnio. Essa é a narrativa que você precisa criar – além de você ser a pessoa certa para atacar aquele problema e mercado relevantes, é claro.

8. Identifique e desenvolva seus sinais

Uma presença essencial em um pitch é o conjunto de sinais que tornam sua startup aquela que está pronta para o sucesso.

O primeiro sinal pode ser o histórico dos fundadores, fundadoras e equipe – desde graduações em universidades de prestígio até desafios pessoais que foram superados. Outros bons sinais são habilidades e realizações quantitativas ou qualitativas recentes da startup (desde ter outros bons investidores e investidoras na sua tabela de capitalização até um marco relevante de vendas).

É essencial encontrar e comunicar uma área em que você está no top 1%. Depois do problema e do mercado, sinais são a próxima peça para VCs considerarem se você pode ser um fund returner ou não. Melhor ainda se você seguir o passo 2 e estudar VCs para identificar quais sinais eles valorizam mais!

9. Construa um relacionamento com VCs

Assim como você teve que construir um relacionamento com outros fundadores e fundadores e investidores e investidora para eventualmente obter uma warm intro, você agora também precisa se aproximar dos potenciais VCs.

Aqui está uma maneira valiosa de construir confiança com esses investidores e investidoras: quando você disser que vai fazer algo, realmente honre sua palavra.

E mesmo que você acabe recebendo um não depois de toda essa construção de relacionamento, não feche as portas ainda. A rejeição de agora não significa necessariamente que você nunca receberá um cheque. Você pode apenas precisar trabalhar em algumas partes do seu negócio. Entregue resultados prometidos mais uma vez e reconecte-se com esses investidores e investidoras.

10. Peça mais feedback (e realmente aprenda com ele)

Você só saberá no que precisa trabalhar se estiver aberto a receber feedback dos investidores e investidoras. Não importa se você recebeu um sim ou um não: sempre peça o máximo de feedback que VCs puderem lhe dar, sejam eles e elas do seu setor ou de outros.

Prestar muita atenção na devolutiva é um enorme sinal positivo para VCs. Seja mais curioso e peça um depoimento real, sem rodeios. Mas você não pode exigir feedback e parar por aí. Pegue o que faz sentido e descarte o que não faz.

Prós e contras do venture capital para sua startup

É importante observar que o venture capital não é a única opção de financiamento disponível para startups. Já falamos sobre investimento anjo e private equity, mas também existem o equity crowdfunding, o venture debt e diversas outras alternativas para conseguir fundos.

As startups que buscam capital precisam avaliar estrategicamente as diferentes opções disponíveis para financiar seu crescimento e escolher aquela que melhor se adapta às suas características e necessidades. Então, aqui estão os prós e contras de escolher o venture capital como forma de captar recursos para sua startup:

Prós do venture capital para sua startup

  • Fornece capital até mesmo para startups em estágio inicial;
  • Ao contrário dos empréstimos bancários, as startups não precisam atingir um determinado fluxo de caixa ou valor em ativos para garantir o financiamento;
  • Além do financiamento, VCs também podem fornecer mentoria e networking. O suporte pode ser essencial para a nova empresa captar talentos e crescer, por exemplo.

Contras do venture capital para sua startup

  • A arrecadação de fundos é um processo demorado, que consome seu tempo e sua capacidade mental. Esteja preparado para trabalhar nisso;
  • VCs geralmente exigem uma grande participação acionária na empresa para equilibrar o risco que estão assumindo. Sempre preste atenção na sua diluição;
  • Aceitar investimentos de capital de risco levará a alguma perda de autonomia, pois os investidores podem exigir direitos como pro-rata, cláusulas de liquidez e provisões protecionistas no termo de compromisso;
  • Há mais pressão sobre a startup para explicar bons e maus resultados e para ter um horizonte de tempo para cada marco (milestone), possivelmente até para o tão sonhado evento de liquidez.

O glossário do venture capital

Você sempre pode checar todas expressões relevantes para empreendedores e empreendedoras de tecnologia no nosso glossário para startups na esteira do venture capital. Mas aqui estão alguns termos relacionados a venture capital que mencionamos neste artigo:

Investidor anjo 👼

Fiel ao seu nome, o investidor anjo é um indivíduo disposto a assumir um risco quando quase ninguém mais o fará. Os anjos mais sofisticados apostam em várias startups nascentes, construindo seu próprio portfólio e muitas vezes usando seu conhecimento e rede para ajudar a conduzir essas empresas na direção certa.

Densidade de calendário 🗓️

Parte do manual de captação de recursos (fundraising) da Latitud e popularizado por nosso mentor Jason Yeh, a densidade de calendário (calendar density) significa compartilhar sua agenda e marcar reuniões com todos os investidores relevantes para sua empresa no período de algumas semanas.

É uma janela de tempo apertada para que todos conheçam você, sua empresa e sua atual captação de recursos. Você mantém uma boa posição no jogo, com os investidores precisando decidir rapidamente se estão dentro ou fora. Isso é parte essencial na estratégia da densidade de calendário: se você espaçar muito suas apresentações de pitch, corre o risco de ficar em segundo plano enquanto os fundos vão atrás de negócios mais quentes.

Cap table 🗂

Uma tabela de capitalização (cap table) é essencialmente uma lista de quem possui qual participação na empresa. Esclarecer essas informações desde o início pode ser importante para ajudar a evitar conflitos futuros.

Cláusulas de liquidez 🫠

Todo term sheet tem cláusulas de liquidez. Elas determinam como e em que ordem investidores serão pagos e também servem para protegê-los caso as startups tenham uma saída com um valor menor do que o esperado.

Evento de Liquidez (saída) 🤑

Um evento de liquidez (também chamado de saída ou exit) é uma transação que permite aos acionistas sacar alguns ou todos os seus investimentos, ou seja, finalmente colocar o valor investido + valorização no bolso! Um evento de liquidez pode ser uma fusão, aquisição, oferta pública inicial etc.

LP 👥

Limited Partners (LP), também conhecidos como Silent Partners, são investidores, geralmente dos fundos de venture capital, que têm participação nas empresas em que esses fundos investem. São parceiros "limitados" no sentido de suas participações e obrigações, já que não podem assumir mais da dívida da empresa do que aquilo que investiram.

Direitos pro-rata 🤞

Os direitos pro-rata dão aos investidores e investidoras o direito de manter sua porcentagem de participação na startup durante investimentos futuros. Portanto, após outra rodada de investimentos, você terá de aceitar novos investimentos e emitir ações adicionais para empresas com direitos pro-rata.

Provisões protecionistas 🙅

As provisões protecionistas são basicamente direitos de veto. Elas são um dos principais recursos de controle que um investidor ou investidora tem sobre determinadas decisões da empresa. As provisões protecionistas são um tópico comum de discussão durante as negociações do term sheet.

Para levantar capital com os melhores investidores evitando dores de cabeça, startups brasileiras precisam incorporar empresas de maneira simples e confiável.

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